Semana de 27 de outubro a 02 novembro de 2025
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Não há como falar de outra coisa que não a
chacina executada pela Polícia Militar e comandada pelo governador do Rio de
Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ). Para além de um reflexo das barbáries
ideológica, política e social em que vivemos, isto é um produto direto do
desenvolvimento capitalista, em especial, da forma como este se dá no Brasil.
O sistema econômico que rege a esmagadora
maioria dos países na atualidade, o capitalismo, tem algumas características
que fazem parte da sua essência. A mais clara e evidente é aquela que
condiciona a produção de tudo aquilo que os seres humanos necessitam para
sobreviver à produção de lucro. Em outras palavras, um bem de consumo existirá
se, e somente se, sua produção for lucrativa para alguém.
Apesar de relativamente poucos, alguns com
posses suficientes vão investir sua riqueza na produção dessas mercadorias.
Naturalmente, cada um vai buscar ser o mais produtivo possível, para ter o
máximo de lucro possível e vencer seus adversários na concorrência. Dentre os
mecanismos mais eficientes para isso está a busca incessante pelo progresso
tecnológico, na medida em que uma máquina é muito mais produtiva do que o ser
humano.
Somadas a essas, outras características do
capitalismo são relevantes: toda vez que uma empresa vai à falência, sobra uma
que a engole e se torna cada vez maior e mais dominante; empresas vão crescendo
e passam a atuar em múltiplos setores ao mesmo tempo, dominando vários elos de
uma cadeia produtiva; algumas se tornam tão grandes que cada vez menos empresas
podem entrar naquele setor; investir na produção e na comercialização da maior
parte das mercadorias se torna financeiramente impossível à imensa maioria da
população, em especial, aos trabalhadores e aos pequenos empresários.
Como consequências dessas características,
temos os fatos de que: 1) no capitalismo, o acesso a mais riqueza é restrito
(quase exclusivamente) àqueles que já tem alguma riqueza; 2) aos que não têm
riqueza, resta sujeitar-se às condições de trabalho e de vida que cada país e
cada época lhes oferece; 3) dada a sujeição das transformações tecnológicas à
lógica capitalista, as relações de trabalho têm se tornado cada vez mais
precárias; e 4) enquanto, por um lado, uma parcela cada vez menor da população
amplia a riqueza que detém, uma parcela cada vez maior se torna excessiva em
relação às necessidades do próprio capitalismo, sendo descartável por não
apresentar potencial de contribuição para a economia e, consequentemente, se
tornar um problema social.
Tudo isso, no Brasil, assume um caráter
ainda mais perverso, dada nossa condição de país periférico. Inclusive, uma
parte daquilo que é tido como “ponto positivo” do capitalismo não se concretiza
dentro do nosso território. Por exemplo, a maior parte do progresso tecnológico
que utilizamos no nosso dia a dia não foi desenvolvido aqui. É tecnologia que
serve para os empresários aumentarem sua produtividade, mas que, por um lado,
não só não emprega pessoas (pois importamos a tecnologia), mas desemprega os
trabalhadores brasileiros que são substituídos por essas máquinas. Torna os
preços mais baratos, mas não contribui de forma efetiva para o aumento do
emprego.
Obviamente, o problema não está na máquina
em si, mas no seu uso como meio de obter lucro. Mas, voltando ao ponto... É nas
periferias das cidades que sobrevivem as vítimas deste sistema. Não há como
realizar qualquer debate sério sobre segurança se não levarmos tais fatos em
consideração.
Em qualquer momento histórico, a existência
humana tem como sustentáculo o papel que o indivíduo exerce nos processos de
produção e apropriação da riqueza social. Sem uma chance de inserção como
sujeito que participa desta que é a dimensão mais básica da sociedade, como um
indivíduo terá qualquer possibilidade de ter uma vida minimamente digna?
Certamente, isto não é do interesse da
extrema direita em qualquer parte do mundo. Por aqui, discutir as reais causas
dos problemas sociais gerados pelo capitalismo não está em pauta. Na verdade,
essa fração da política sobrevive da morte física daqueles que já nasceram
mortos do ponto de vista social. É por isso que, de tempos em tempos, a
burguesia recorre a esse espectro político para os representar, pois, usando o
terror como prática, eles figuram como defensores irracionais do capitalismo.
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Jessica Brito, Julia Bomfim, Lara Souza, Maria
Julia Alencar, Rosângela Palhano e Victoria Rodrigues.


