Semana de 28 de julho a 03 de agosto de 2025
Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]
Em mais uma demonstração de instabilidade política
e econômica, Donald Trump decidiu amenizar o chamado “tarifaço” contra o
Brasil, retirando da lista de produtos taxados cerca de 700 itens –
aproximadamente 40% do total exportado pelo país aos Estados Unidos. Entre os
beneficiados estão tecnologias da Embraer, minerais estratégicos e alguns
produtos alimentícios, como o suco de laranja, que havia se tornado um símbolo
nas discussões sobre a medida. Vale lembrar que Trump prometeu iniciar a
cobrança em 1º de agosto, mas também recuou nesse aspecto e adiou seu início
para o dia 6 de agosto, num típico movimento “morde e assopra”. O recado, caro
leitor, é claro: Trump não mantém posições estáveis, e essa volatilidade mina
previsibilidade nas relações comerciais.
Mais grave que o vaivém é o discurso usado
para justificar a sobretaxa. Os Estados Unidos decidiram colocar o Brasil como
uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança, política externa e economia
nacionais. Fica a pergunta: que ameaça real representa o Brasil para os EUA? O
Brasil, tão subestimado pelos Estados Unidos ao longo das décadas, “agora” é
motivo de terror?
A verdade, caro leitor, é que essa retórica
revela uma contradição gritante. O mesmo país que, por décadas, pregou e impôs
o livre comércio mundo afora agora parece convenientemente esquecê-lo. Quando
os ventos não sopram a seu favor, os EUA abandonam os princípios que diziam
defender e recorrem a um protecionismo disfarçado de medida de segurança. No
fim, essa é apenas mais uma mostra de que não são valores econômicos universais
que movem a decisão norte-americana, mas sim interesses domésticos e
conjunturais.
No campo interno, a tarifa de 50% que se
manteve sobre produtos-chave como café, carne bovina, têxteis e calçados
certamente vai afetar a rentabilidade dos produtores brasileiros. No entanto,
para o consumidor, pode haver um efeito imediato de queda de preços, já que
parte da produção que iria para os EUA ficará no mercado interno. Estimativas
indicam um impacto pontual de até -0,24 ponto porcentual no IPCA, puxado pela maior
oferta de carnes, café e etanol. Ainda assim, há riscos de desestímulo à
produção, o que pode afetar o emprego e a renda no país.
Ciente dos desafios, o governo brasileiro
preparou um plano de contingência para minimizar o impacto econômico. A
estratégia inclui crédito subsidiado, medidas de manutenção de empregos e foco
especial em micro, pequenas e médias empresas, que representam uma fatia
relevante das exportações para os EUA. Não é a primeira vez que o país adota
uma reação rápida: em 2024, diante das enchentes no Rio Grande do Sul, um
pacote emergencial de apoio às empresas e reconstrução de infraestrutura evitou
um impacto maior sobre o PIB e o emprego, sendo reconhecido como uma ação
bem-sucedida. A expectativa agora é que a nova rodada de medidas consiga
amortecer os danos do tarifaço, especialmente em setores estratégicos.
Enquanto o Brasil enfrenta turbulências
externas, no front interno um acontecimento histórico marca a política
nacional: a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro
Alexandre de Moraes. A medida foi tomada após Bolsonaro descumprir
reiteradamente determinações judiciais, reforçando a ideia de que ninguém, por
mais popular ou poderoso que seja, está acima da lei. Alvo também de ataques
dos EUA, Moraes resiste e reafirma o compromisso do país com o Estado de
Direito.
Entre a instabilidade comercial vinda de
fora e a reafirmação democrática dentro de casa, o Brasil se encontra num ponto
decisivo. A reação ao protecionismo de Trump exigirá habilidade diplomática e
diversificação de mercados; a prisão de Bolsonaro, por sua vez, reforça que a
democracia brasileira, apesar de todos os desafios, permanece viva e combativa.
O que vem pela frente será um teste de resistência — tanto para nossa economia
quanto para nossas instituições.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Ícaro Formiga, Icaro Moisés, Jéssica Brito, Lara Souza, Nelson Rosas e Raquel Lima .