Semana de 08 a 14 de setembro de 2025
Rosângela Palhano Ramalho[1]
Caro leitor, na coluna anterior já
prenunciávamos a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e os asseclas
militares que constituíram uma organização criminosa que visava, por meio de um
golpe, pôr fim à democracia brasileira. O bando, segundo os autos do processo,
conspirou para que o ex-presidente permanecesse no poder, mesmo após a derrota
nas eleições presidenciais de 2022. Finalizado o julgamento em 11 de setembro,
7 dos 8 dos integrantes do núcleo golpista principal foram condenados à prisão
em regime fechado, pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado
Democrático de Direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa
armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Parafraseando a fala da ministra Cármen
Lúcia, o julgamento é um marco, pois representa o “...encontro do Brasil com
seu passado, presente e futuro.” O líder da organização criminosa foi condenado
a 27 anos e 3 meses de reclusão; o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto,
foi sentenciado a 26 anos; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Anderson
Torres, ex-ministro da Justiça, foram condenados a 24 anos cada; o ex-chefe do
Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, recebeu 21 anos; Paulo Sérgio
Nogueira, ex-ministro da Defesa, foi sentenciado a 19 anos; o ex-diretor da
Abin, Alexandre Ramagem, que escapou dos crimes contra o patrimônio, pois já
exercia o mandato de deputado, foi condenado a 16 anos, um mês e 15 dias e o
ex-ajudante de ordens Mauro Cid, cumprirá dois anos em regime aberto, por ter
celebrado acordo de colaboração premiada.
Em relação ao tarifaço os desafios
permanecem. Apesar de o governo ter aprovado um pacote para minimizar os
efeitos sobre os setores atingidos, a ameaça de imposição de novas sanções, em
virtude de a Justiça Brasileira estar cumprindo o seu dever constitucional
julgando criminosos, é constante. Um dia depois da condenação da quadrilha
golpista, o subsecretário da Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren
Beattie, declarou que a decisão que era um “acontecimento sombrio com a máxima
seriedade.” O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, disse que seu país
“condena o uso da lei como arma política.” E por fim, o secretário de Estado
americano, Marco Rubio, afirmou, do alto de sua característica arrogância, que
o governo dos EUA dará “resposta à altura”.
Enquanto se empenha em salvar a economia
interna, o governo enfrenta duros embates no Congresso Nacional, ao tentar
aprovar projetos que lhe são caros, como o que amplia a faixa de isenção do
Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e a proposta que muda a
previdência dos militares estabelecendo idade mínima de 55 anos para
aposentadoria, além de 35 anos de serviço.
Em relação à conjuntura, o indicador do
varejo mostra que o volume de vendas do setor caiu 0,3% em julho em relação a
junho, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Mas, diante de todas as
dificuldades, a economia brasileira resiste, e mesmo desacelerando por causa
dos juros altos, ainda cresceu 0,4% no segundo trimestre do ano quando
comparada ao primeiro.
Já o IPCA de agosto, indicador oficial da
inflação, caiu 0,11% e registrou a primeira deflação mensal desde julho de
2023. É uma boa notícia. Temos um crescimento moderado com queda do nível de
preços. Mas ainda não basta, dizem os analistas. Ao invés de celebrar o ganho
no poder de compra dos brasileiros, mostram preocupação com os preços dos
serviços. O combate à inflação no Brasil regrado por metas de inflação
extremamente rígidas, faz soar naturalmente absurdos como o proferido por um
especialista da AZ Quest. Questionado sobre os valores apresentados pelo IPCA
de agosto ele nos tranquiliza afirmando que os efeitos da política de juros
altos “...deve chegar ao mercado de trabalho e, consequentemente, ajudar a
inflação de serviços a arrefecer para níveis mais próximos compatíveis com a
meta.” Desempregar pessoas propositadamente não é um problema. Esta é a visão
do Banco Central, amplamente corroborada pelo mercado financeiro.
Portanto, enquanto o sistema judiciário
brasileiro aprisiona em regime fechado, o chefe da organização criminosa
golpista e seus comparsas, o sistema de metas de inflação adotado pela
autoridade monetária, condena a economia brasileira ao cárcere do baixo
crescimento e do desemprego.
[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Antônio Queiroz, Paola Arruda, Lara Souza,
Julia Dayane, Ícaro Moisés, Nelson Rosas e Bruno Lins.